O tempo em que a minha relação com os livros era divinal, sagrada, acabou. Sentia-me uma herege em mesmo pensar em escrever meu nome  neles, passei a mudar depois que sem nome era mais difícil a devolução de um empréstimo. Começou assim: escrever meu nome não tem tanto problema... Entrei na universidade e então tudo mudou. Nas intermináveis xerox de textos mirabolantes era impossível mante-los puros,intáctos. Eu precisava fazer as pontes as correlações,atrelar as informações, os contextos e valiosas pesquisas à wikipedia... o resultado: marca texto coloridos anotações de lápis e canetas, quase conseguia escrever mais que o autor, isso se estendeu aos meus livros também. Marca texto e caneta NEM pensar, só mesmo na contra capa com meu nome e o ano da compra do livro. No conteúdo: lápis e muito de mim. Afinal os meus livros me transformam, eu transformo os meus livros. Difícil agora é me conter quando o livro é alheio, minhas mãos coçam... Eu converso com o livro, interajo, destaco, viajo... Mas isso diz mais... Antigamente acreditava que existiam relações perfeitas só não as havia encontrado, hoje sei que tudo que tocamos, usamos, amamos, só é amor mesmo quando nos envolvemos, quando tocamos, nos misturamos, nos arranhamos, discordamos e percebemos tudo que não se percebe no que está longe.Tudo que não se percebe numa relação distante: livros na estante. Guardados na estante os livros parecem perfeitos basta que o toquemos para perceber um erro de informação ou gramática,uma letra ruim, uma capa desagradável.Meus livros não são mais perfeitos como antes, mal parecia que eu os havia lido, mas agora são muito mais meus do que já foram um dia. Deixei minhas marcas neles, fui marcada por eles. Bom ou ruim FOI O LIVRO QUE EU LI. E isso ninguém pode arrancar de mim. As pessoas também são assim não dá pra imaginá-las perfeitas, imaginar que elas não vão nos decepcionar ou falhar ou que não iremos discordar. Pessoas são imperfeitas assim como você e assim como eu. Por que destaquei VOCê e EU? Porque eu e você temos um defeito em comum: ver defeitos nos outros e esquecer que fazemos parte dos outros.
“Por que você repara no cisco que está no olho do seu irmão, e não se dá conta da viga que está em seu próprio olho?” Mateus 7.3
 O mais curioso é que num livro eu destaco as passagens que eu mais gosto não as que não gosto e o fato de um determinado livro ter inúmeras coisas ruins nem de longe desmerece aquilo que acho bom... Já com as pessoas eu muitas vezes decido por destacar o que não gosto e isso não me parece nada inteligente.Percebi que Sou bem mais humana com os livros do que com os outros humanos. Se passarmos a destacar só o que é bom, voltaremos as páginas da nossa história e nossos olhos serão levados apenas às partes que gostamos, que nos identificamos e então perceberemos que as pessoas-livros contribuíram e muito para o que somos e podemos inclusive indicar a leitura para outros. Vale a pena conhecer, interagir e se transformar com essas pessoas, são fascinantes! São  livros divinais, livros escritos por Deus, pessoas à imagem e semelhança de Deus e por isso só já valem a pena!
Então só me resta desejar que a partir de hoje saibamos o que realmente significa uma boa leitura:
E que sejamos amantes dos livros e das pessoas fazendo de ambos uma leitura inteligente!
Beijos! Sabrina

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